A pele reveste todo o corpo humano e a barreira cutânea atua como uma espécie de escudo protetor, impedindo que agentes externos como bactérias, vírus e fungos patogênicos penetrem no nosso organismo, retendo substâncias nocivas e agentes a que somos expostos diariamente. A barreira cutânea é composta por 5 barreiras (física, química, biológica, imunológica e neurossensorial) cada qual desempenhando uma importante função.
Os microrganismos sempre foram vistos como algo que atrapalhava o bom funcionamento do organismo. Após a conclusão do Projeto Genoma Humano e o barateamento das técnicas de sequenciamento, o olhar da comunidade científica se voltou para a microbiota. O Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos iniciou uma investigação envolvendo a participação de diversos Institutos e Universidades na tentativa de compreender o que a microbiota faz e qual sua importância. O projeto do Microbioma Humano foi desenvolvido em duas fases: a primeira com duração de 2008 a 2013, teve por objetivo identificar e caracterizar a flora microbiana humana, foram estudadas várias comunidades microbianas em diferentes locais do corpo humano, incluindo a pele, em 300 indivíduos saudáveis. Já a segunda fase ficou conhecida como Microbioma Humano Integrativo e ocorreu entre 2014 a 2016, nessa fase o principal objetivo foi elucidar o papel dos microrganismos na saúde e na doença.
Você deve estar se perguntando: “- O que isso tem a ver com a minha pele?”
A pele é habitada por um conjunto de microrganismos benéficos (bactérias, vírus e fungos) que é conhecido como microbioma da pele humana. Uma parte desses microrganismos são residentes, isto é, pertencem a nossa própria microbiota, como uma assinatura individual, não existem duas microbiotas iguais. É no parto, ao passar pelo canal vaginal, na amamentação e nos primeiros contatos físicos que o bebê recebe o microbioma da mãe. Aqueles que nascem por cesariana e/ou não recebem o leite materno apresentam microbioma diferente, refletindo a população microbiana presente no ambiente hospitalar, da pele da mãe e de alimentos. Os bebês prematuros apresentam o microbioma mais disfuncional de todos, pois receberam tratamento com antibióticos, geralmente por longos períodos durante sua estada na UTI neonatal. Esse microbioma alterado persiste na criança por muito tempo após o nascimento.
Na infância é formado o microbioma próprio do indivíduo, na adolescência ele se torna estável e esse perfil microbiano é carregado com você para o resto da vida.
A pele faz a comunicação com o meio interno, sendo a primeira a perceber variações de temperatura, de irradiação, contato com substâncias, com o ambiente, com roupas, interações entre as pessoas, animais … estamos trocando microrganismos o tempo todo… e estabelecendo comunicação com o sistema imunológico.
O desequilíbrio entre bactérias benéficas e patogênicas é chamado disbiose. À medida em que se avança o conhecimento sobre as disfunções estéticas e a fisiopatologia envolvida, entende-se que por trás dessa disfunção estética há uma desordem metabólica e o último ponto dessa desordem se reflete na pele.
O microbioma desempenha um significativo papel na saúde humana, homeostase, sistema imune e patogênese da doença. O microbioma da pele tem uma conexão com o intestino (conhecida como eixo intestino-pele) e seus efeitos nas condições dermatológicas (alergias, dermatite atópica, psoríase, rosácea, acne).
Diante desse novo olhar sobre a importância do microbioma da pele, o cuidado com a pele não é puramente uma questão de estética e sim de saúde. A indústria cosmética se mobiliza para a produção de formulações que afetam menos a microbiota, que restauram a barreira cutânea, através de cosméticos prébioticos, probióticos ou simbióticos (pré e probióticos simultaneamente), tema da nossa próxima conversa, te espero!