“Você é o que você come”. Como nutricionista não posso negar que a alimentação é a base de uma saúde. Mas exatamente por ser nutricionista, e trabalhar com transtornos alimentares, digo que esta frase está incorreta. Sim, porque não somos só o que comemos, somos um conjunto de hábitos, pensamentos, escolhas. Somos o que absorvemos do que comemos, somos os livros que lemos, as músicas que ouvimos, o ambiente em que vivemos e o quanto deixamos ele nos afetar.
Vivemos em um ambiente obesogênico, carregado de informações incorretas, onde se convoca a todo momento o comer. O ato de se alimentar modificou ao longo dos tempos, não se senta mais a mesa. Tem que ser rápido, prático, muito saboroso. O sinônimo disso são ultraprocessados. Alimentos com muita gordura e diferentes tipos de açúcar que aguçam o paladar e convidam a comer mais.
Na contramão disso se exige magreza. Magreza como sinônimo de belo, de vitória, de controle. As redes sociais estão recheadas de dietas de emagrecimento rápidas, o segredo para um corpo perfeito. Criando a ilusão de que todos podem alcançar o mesmo resultado. Mas a que custo?
Os transtornos alimentares têm crescido de forma assustadora nos consultórios. Na busca de um padrão de beleza, negam-se as particularidades dos corpos e isto, no mínimo, leva a uma relação ruim com a comida e com este corpo. Quando esta insatisfação com o corpo e com a imagem refletida no espelho torna-se fator primordial na vida, a busca desse ideal de perfeição passa a ser um projeto de vida, palco perfeito para o desenvolvimento de um transtorno. Relaciona-se sucesso profissional, aceitação, conquistas de amor e estabilidade psicológica ao padrão de corpo que quer atingir, padrão este que não respeita os diferentes biotipos.
Os mais frequentes tipos de transtorno alimentar são a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar periódica que pode estar presente no paciente obeso. Os transtornos alimentares não especificado, como a ortorexia (obsessão por comer saudável) e a vigorexia (obsessão por músculos), vêm chamando a atenção no consultório pela quantidade de pessoas que se enquadram nessas categorias e por estarem deixando de ser predominantemente transtornos femininos.
Mas os adolescentes ainda são os mais envolvidos. As redes sociais, o cinema, os desfiles de moda, os comerciais na televisão difundem um padrão de beleza que, principalmente para os adolescentes, nos quais as transformações biológicas e as alterações na personalidade estão ocorrendo, se tornam mais suscetíveis de crer que sua imagem corporal está desproporcional em relação à imagem idealizada. Então, estes adolescentes passam a se alimentar incorretamente e podem seguir dietas inapropriadas que causam alterações graves no corpo e no desenvolvimento.
Cabe a todos os profissionais de saúde um olhar atento a estes sintomas. Tratar destes aspectos de comportamentos distintos que levam a escolhas alimentares, é importante procurar entender em que ponto a escolha alimentar e o comportamento social pode vir a se tornar patológico.
A escolha alimentar, saudável ou não, depende de cada pessoa, do ambiente onde vive, da capacidade individual de fazer escolhas, mas também das condições externas, incluindo a forma de organização da sociedade, suas leis, os valores culturais e o acesso à educação e aos serviços de saúde.
Portanto, somos muito mais do que comemos ou deixamos de comer!
Maria Angélica Fiut
Nutricionista e Fitoterapeuta.
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