Qual o segredo da longevidade? Esta pergunta pode ter inúmeras respostas dependendo para quem foi direcionada. A religião talvez diga que está na espiritualidade, a medicina no controle de doenças, a nutrição na alimentação, o educador físico no movimento, a psicologia vai dizer que está na saúde mental. Mas o que sabemos é que a ciência cada vez mais estuda os longevos e a conclusão que se chega é que todos estão certos, mas também errados.
Errados por quê? Porque não é uma única resposta. Publicações e pesquisas na área mostram que uma série de fatores podem contribuir para que tenhamos mais pessoas longevas. Importante dizer que não basta viver muito, mas viver bem e com saúde, com autonomia, feliz… Será que o segredo está no que comemos? Posso dizer, como nutricionista que a alimentação tem sim um fator primordial na saúde e desenvolvimento de doenças.
Uma das formas de medir a longevidade é o desenvolvimento dos telômeros. Os telômeros são estruturas formadas de DNA que estão nas extremidades de nossos cromossomos e tem a função de proteger o material genético que o cromossomo transporta. Todas as nossas células se replicam até a morte celular, à medida que nossa célula se replica o cromossomo vai perdendo pedaços de telômeros. Um cromossomo com telômeros curtos envelhece mais rápido.
Pesquisas neste campo mostram que alguns padrões alimentares, como dietas mais ricas em alimentos naturais e vegetarianos com menos utilização de alimentos ultraprocessados podem preservar o tamanho destes telômeros. Além disso, algumas plantas medicinais também atuam protegendo estes telômeros de um encurtamento rápido. Isto ocorre porque atuam na enzima telomerase que tem a função de proteger o cromossomo regenerando os telômeros. Os telômeros também estão presentes em pesquisas de prevenção de câncer, portanto nossa alimentação vai influenciar positiva ou negativamente na qualidade e tempo de vida, além do desenvolvimento de doenças.
Mas, como disse no início desta escrita, não é apenas um fator, mas um conjunto de fatores. Se você for profissional de saúde não deixe de assistir o documentário “Como viver até os 100 anos: Os segredos das zonas azuis” Ele conta um pouco da pesquisa feita por alguns profissionais cientistas, médicos e demógrafos. Começou com o demógrafo belga Michel Poulain e o médico italiano Gianni Pes que descobriram uma população com muitas pessoas longevas na região da Barbaglia, na Sardenha/Itália, a zona azul. Mais tarde, o pesquisador americano Dan Buettner começou a trabalhar para identificar outras áreas com altas taxas de longevidade e encontrou outras quatro zonas azuis: Okinawa, no Japão; Icaria, na Grécia; Loma Linda, na Califórnia; e Península de Nicoya, na Costa Rica.
O resultado deste trabalho é muito interessante, a medida em que estas regiões eram estudadas observou-se uma repetição em comportamentos:
1. Ter como padrão alimentar uma dieta rica em produtos à base de plantas e carboidratos complexos. Carnes, peixe e produtos lácteos eram consumidos, mas em quantidades mais baixas.
2. Não comer até se empanturrar ou até se sentir completamente saciado, deixar um espaço, acabar a refeição antes de se sentir completamente satisfeito.
3. Consumo moderado de bebida alcoólica, não inexistente, muitos longevos tinham o hábito de beber um pouco.
4. Movimentar-se, as pessoas que moravam nestas regiões tinham em sua rotina hábitos de vida que estimulavam estar em atividade, não precisavam ir praticar atividade física, sua rotina diária já envolvia este movimento, não existia sedentários entre os longevos.
5. Reduzir o estresse, nestas regiões observou-se sempre ter algo no decorrer do dia que ajudava no controle do estresse, como por exemplo tirar um cochilo ou meditar.
6. Ter um propósito, uma atividade que te faça acordar todos os dias. Na comunidade japonesa eles chamam de “ikigai”.
7. Participar de grupos sociais que promovam atividades.
8. Participar de atividades de religiosidade.
9. Conviver com a família, construir e manter relacionamentos sólidos com faixas etárias distintas.
Talvez você esteja dizendo: mas e a genética? Claro que a genética é um fator importante na nossa saúde e desenvolvimento de doenças, mas não somos escravos dos nossos genes. Eles podem ser nosso ponto de partida, mas cada vez mais a epigenética e a nutrigenômica estão aí para dizer que é possível uma “virada de chave” na modulação genética. Podemos verificar que os nove fatores destacados nas zonas azuis não são práticas impossíveis de serem feitas e que o “segredo” pode ser começar cedo. Outra observação importante é que apesar de ter um padrão observado, cada pessoa é única, e toda dieta mais específica deve ser orientada de acordo com as questões de vida e patologias que possam existir.
Mas, se você quer começar a pensar sobre sua longevidade, recomendo ir mudando seus hábitos de vida e hábitos alimentares aos poucos. Leia a respeito, procure ajuda de profissionais de saúde que trabalhem com medicina preventiva e integrativa. Se queremos ser longevos precisamos começar com equilíbrio, comportamentos extremos e radicalismos não foram descritos nas zonas azuis.
Maria Angélica Fiut
Nutricionista e Fitoterapeuta.
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